O trono está vago. E Patrick Mahomes, 27 anos, US$ 45 milhões (R$ 235 milhões) de salário por ano, é o maior candidato a ocupá-lo. Com a aposentadoria de Tom Brady, o título de maior jogador da NFL, a liga profissional de futebol americano, o esporte mais popular dos Estados Unidos, está vago. Mahomes poderá reforçar sua candidatura de herdeiro se vencer o Super Bowl, a final do torneio, neste domingo (12). Sua equipe, o Kansas City Chiefs, enfrentará o Philadelphia Eagles.
Evitar que Mahomes vença o segundo Super Bowl da carreira é o plano de Jalen Hurts, líder do ataque do Philadelphia Eagles, time que começou como azarão, com cotação de 30/1 nas casas de apostas, e virou favorito ao título.
Os dois são os quarterbacks. É a posição de lançador. Nenhuma é tão importante do futebol americano. Ao lado do pitcher (arremessador) no beisebol, trata-se da mais glamourosa dos esportes americanos.
Será a primeira vez que o Super Bowl, agora em sua 57ª edição, terá confronto entre dois quarterbacks negros.
« Brady é o maior de todos os tempos. Ele é único », elogiou Mahomes, ao anúncio da aposentadoria do também quarterback que, por New England Patriots e Buccaneers, é o maior vencedor da história da NFL: sete títulos.
Mahomes, tal qual Brady, tem o talento para arrancar vitórias das garras da derrota. Foi o que aconteceu nas finais de conferência deste ano, contra o Cincinnati Bengals, e em 2021 diante do Buffalo Bills. Nos atuais playoffs, ele tem jogado bem apesar de lesão no tornozelo. Foi eleito MVP, o melhor jogador da temporada regular, depois de acertar 67% dos passes e lançar para 41 touchdowns, a pontuação máxima do esporte.
Já Hurts, além da precisão e do crescimento que demonstrou, tem a vantagem de contar com uma linha ofensiva quase inexpugnável. São os jogadores que bloqueiam os defensores rivais. Eles dão tempo e liberdade para o quarterback lançar. E, quanto mais livre, maior a chance de o lançamento ser preciso.
Mahomes e Brady se enfrentaram no Super Bowl há dois anos, e o agora aposentado levou a melhor. Como Mahomes não foi brilhante mesmo na final que venceu, em 2020, uma nova derrota agora pode levantar contra o lançador dos Chiefs as críticas de que não consegue atuar tão bem quando o título está em jogo.
Foi uma acusação feita muitas vezes a LeBron James no início da carreira, até o astro da NBA começar a ganhar. Ele já venceu o título da liga norte-americana de basquete quatro vezes.
Há outras críticas feitas Patrick. Uma delas respinga no próprio Brady e vem de nomes do passado da NFL.
« O que eles fizeram não me impressiona em nada », disse o comentarista Trent Dilfer, vencedor do Super Bowl de 2000 como quarterback do Baltimore Ravens.
A reclamação é que as regras mudaram tanto na NFL e favorecem de tal forma os ataques que se tornou « superfácil », segundo Dilfer, jogar na posição hoje em dia. A preocupação dos dirigentes é evitar ao máximo que os quarterbacks sofram impactos físicos mais fortes. Brady atuou até os 45 anos.
« Ele poderia jogar até os 50. Ninguém pode encostar nele! », disse Lawrence Taylor, astro histórico de defesa do New York Giants, campeão da liga em 1987 e em 1991.
A preocupação é com a saúde dos jogadores, mas também financeira. Quanto mais os ataques pontuam, quanto mais os quarterbacks lançam, mais as partidas se tornam atrativas para o torcedor comum. E mais a NFL fatura.
Já apontado como futuro herdeiro de Brady há alguns anos, Mahomes ouviu reclamações de ser protegido em excesso pelos árbitros. A promessa sempre existiu em sua trajetória. Ele foi a décima escolha na primeira rodada do draft de 2017, o evento em que as equipes selecionam os jogadores que saem das universidades.
Pelos Eagles, Hurts foi a 53ª seleção, já na segunda rodada.
Quem lembrar que Brady passou incólume pelos times e foi draftado pelos Patriots apenas na sexta rodada vai perceber que os avaliadores da NFL nem sempre acertam: 198 nomes foram chamados à frente daquele que seria o maior da história do futebol americano.
Mahomes pode, quem sabe, ser candidato a ocupar esse lugar. Mesmo que esteja sujeito a sofrer pegadinhas por causa disso. Em uma entrevista antes do Super Bowl, o ex-jogador Brandon Marshall perguntou se o astro dos Chiefs sabia que a cantora Rihanna o havia considerado o maior quarteback da história.
« É ótimo que ela pense isso de mim », respondeu Mahomes.
« Eu estou brincando com você. Ela não disse isso », desmentiu o próprio Marshall.
Rihanna gravou um vídeo horas depois.
« Eu acho que você é ótimo », esclareceu a artista, que vai se apresentar no intervalo da partida. (ALEX SABINO/FOLHAPRESS)